domingo, janeiro 28, 2007

Um Tuga em Munique

Devido a um projecto de implementação de um software de planeamento fino da Fabrica à qual damos suporte, que se tem arrastado desde o início de 2006, foi decidido que teria que me deslocar a Munique para acertar os últimos detalhes.

Assim que soube, comecei a preparar possíveis visitas a caches perto da empresa (www.axxom.com) e do Hotel onde iria ficar. Escolhi várias caches mas cedo foquei a minha atenção na geocache que ficava numa pequena floresta a cerca de 15 kms do Hotel. Despertou-me a atenção porque estava num local remoto, embora relativamente perto, porque tinha descrição em inglês, porque era regular e, embora fosse multi, parecia relativamente simples de resolver. A cache escolhida foi a Mann im Baum. Também pensei num cache mistério baseada na codificação de barras, code 39, interleave 3of9, mas não consegui arranjar um leitor de código de barras que lê-se o código impresso em papel...

Apesar da dificulade em arranjar hotel por causa de uma Feira de Engenharia Civil, em Munique, que nos fez procurar um hotel mais longe do escritório da Axxom, mantive a minha escolha preferencial e comecei a divulgar a minha deslocação com o objectivo de dar a conhecer que poderia transportar alguns trackables (TBs/Geocoins) de Portugal para a Alemanha.

Adicionalmente, comecei a preparar as deslocações entre o Hotel e o escritório e entre o Hotel e algumas caches que referenciei. Imprimi os percursos do Google Maps e criei bookmark listings e pocket queries para o efeito. Refiro só que, num raio de 30 kms do Hotel, havia mais de 500 caches.

Também enviei um mail ao owner da cache “prioritária”, o "Geomane" para saber se a cache seria desaconselhada durante a noite - após as 18h00 é noite e não queria entrar em situações complicadas na Alemanha. Ele foi bastante simpatico em responder-me dizendo que o local não é perigoso porque não hà lá animais que possam causar dano e que só necessitava de uma lanterna de media capacidade e que até me poderia acompanhar. Purista como sou, agradeci-lhe e respondi que não precisava da ajuda e que a minha preocupação não era com a fauna natural mas com a outra "fauna"…

Assim, no dia do evento "Wacky Races" desloquei-me à cache G-Spot e, para minha surpresa, ainda lá estava a geocoin listada e que cujo destino era o Japão. Depois, de tarde, no evento, os Rifkinds engtregaram-me dois TBs que se destinavam a Holanda e á Hungria; o Rubik e o The Iceman's Truck.

Feita a "colheita" e chegado o dia da viagem lá fui eu, pela primeira vez na minha vida, até à Alemanha.

A viagem de avião correu bem, embora com um pequeno atraso na partida.

Notei a passagem pelo Norte de Espanha, Lyon e Geneve mas fiquei surpreendido quando nos mandaram apertar o cinto porque estávamos a aproximar-nos de Munique. Já?

Chegados a Munique (fui com uma colega de trabalho que é a responsável pelo Planeamento da Fábrica) dirigimo-nos ao Hotel para fazer o check-in e deixar as malas e, enquanto ela saíu disparada para a Marien Platz, no centro de Munique, para ouvir um concerto de carrilhões e ver a Leo Parade (equivalente à nossa Cow Parade), eu fiquei a desfazer a minha mala e a preparar-me para ir procurar a cache referida acima.

Depois fui pedir um taxi na recepção e quando ele chegou, mostrei o percurso do Google Earth para tentar explicar onde queria ir e o motorista fico admirado com a informação detalhada e com o evoluir da tecnologia que me permitiu, em Lisboa, preparar um percurso a fazer em Munich.

Chegado à zona perto da floresta onde estava a cache, parecida com a Matinha de Queluz mas mais extensa, coloquei-me na orla da mesma à espera do sinal de GPS. Eu já sabia que ia demorar porque tinha desligado o GPSr pela última vez em Lisboa e não podia dizer-lhe que estava em Munique, Alemanha como se pode fazer nos receptores de mão. Por isso, foi uma espera stressante por causa da dúvida que comecei a ter em conseguir ter sinal. Estava também preocupado porque tinha levado TBs e uma geocoin e “tinha” mesmo que os deixar na Alemanha. Ao fim de quase meia hora, já sem saber como disfarçar a minha presença – estava numa zona industrial, perto de um parque de estacionamento, na orla de uma floresta e teria dificuldade em explicar a minha presença ali – lá começou a vir o sinal com alguma hesitação inicial. Assim, que o GPSr me disse, “íííiii páaaaaa! tamos bué da longe do local onde adormeci!”, lá entrei na floresta já com a luz do dia a começar a faltar.

Esta floresta confirmou em aspecto as impressões sobre a famosa “floresta negra” na Alemanha e que é referida em filmes e livros de ficção; densa, escura, misteriosa… mas também atravessada aqui e ali por trilhos de terra batida usados para jogging, passeios de bicicleta e para passear o cão – cruzei-me com algumas, poucas, pessoas que, mesmo ao lusco-fusco, davam este tipo de usos à floresta.

Cerca de 1km após ter entrado nela, lá cheguei ao local das coordenadas publicadas. Era um cruzamento de vários caminhos de terra batida onde estava uma estranha capela de madeira construída dem volta do tronco de uma árvore. Tinha velas, placas, datas… um local de culto religioso. E, o mais estranho, uma pequenina estátua metálica de Cristo crucificado emergindo de dentro do tronco da árvore. Como se fosse um ramo a nascer. Soube, dias mais tarde, através de um mail do owner, a história desta estátua:



Hi Manuel,

I'm glad you found the "Mann im Baum", congratulations :-)
As you don't understand german, I give you some information about the reason of the "man in the tree":
In 1945, right after World War II, someone hang a wooden cross with a metal corpus onto a spruce tree. After the years run by, the tree grew and embedded the metal corpus more and more (while the wooden cross disappeared).
In a heavy storm in 1992 the spruce fell. The trunk with the embedded metal corpus remained. In 1994 the chapel was built around the trunk, for the memory of the people who died in the days after the war.

I hope you enjoyed the cache and your Munich trip.



Bye,
Edi aka Geomane




Muito interessante a história do local e um motivo para colocar uma cache naquele local específico da floresta, sem dúvida.

Quando me preparava para colher os dados para o cache final, recorrendo à luz da lanterna, apareceu-me de uma das estradas um cão de médio porte, preto e em atitude indecisa; ignorar-me ou atacar-me? Depois apareceu a senhora que o andava a passear e chamou-o, seguindo ambos o seu percurso…

Tiradas as fotos possíveis com a câmara do pda (sem flash) , obtidos os dados e feitos os cálculos, segui em direcção à cache onde cheguei ao fim de mais algumas centenas de metros. Encontrei a cache facilmente, afastada de um dos caminhos de modo a que fosse mesmo necessário embrenharmo-nos no mato, e loguei-a, deixando os trackables (que alívio! ehehe!) e tirando mais algumas fotos possíveis. Na cache deixei duas pequenas “vingançazinhas” que não reportei no log oficial; escrevi no logbook que escolhi aquela cache porque tinha descrição em inglês e embrulhei a cache num saco, preto, do lixo da CM Lisboa, para melhor proteger a cache visto que a caixa estava sem qualquer protecção. ;-)









Depois comecei a regressar seguindo a track em sentido contrário, já sem qualquer luz natural, embrenhado numa escuridão total, com a lanterna pendurada no agasalho, em direcção à “civilização”. Quando cheguei à zona industrial, onde vi o maior stand de motos BMW da minha vida, comecei a procurar meio de arranjar um taxi para voltar.

Aqui é que foi um problema; a zona é mesmo apenas industrial e nada de residencial ou de grandes centros de negócios. Assim, nada de transportes públicos – autocarros – nem taxis. Dirigi-me a um pequeno posto de abastecimento e procurei por taxi. Não havia. Ficaram muito aflitos por não poderem ajudar-me. Ainda se fez uma pequena conferência entre o empregado da “bomba” e dois clientes mas confirmaram que não havia taxi a não ser que passasse por acaso. Ainda me perguntaram como fui ali parar e respondi-lhe que tinha ido de taxi e vinha “lá do fundo da rua” e que não esperava vir a ter dificuldades para arrnajar taxi para o regresso. Então, pedi-lhes um número de serviço de taxi para chamar um. Só precisava que eles usassem o meu telemóvel e chamassem o taxi, para o caso de o motorista não perceber inglês, porque eu tinha impresso o percurso de volta ao hotel. Também não tinham número de telefone para serviço de taxis…

Bem, iniciei o que me pareceu ser uma longa caminhada de regresso ao hotel a pé, tendo que atravessar duas autoestradas, um rio e uma linha férrea, sem mapas detalhados da zona o que pode ser um problema porque o GPS só me manda ir em frente e não propôe os melhores percursos para o fazer. Fui andando tentando manter-me nas ruas que me pareciam mais frequentadas ou com instalações comerciais/industriais maiores, na esperança de encontrar algum taxi de regresso de algum serviço.

Algum tempo depois, dei com um parque de estacionamento de uma superfície comercial de alguma dimensão, tipo AKI, e vi um taxi a entrar nesse parque. Chamei-o mas ele fez sinal que não aceitava serviços. Como ele parou no parque, segui-o e fui falar com o motorista que já saía da viatura. Expliquei-lhe que apenas precisava que ele chamasse um colega, usando o meu “mobile phone” uma vez que ele estava a acabar o seu tempo de serviço. Perguntou-me para onde queria ir e mostrei-lhe as chaves do hotel onde, na placa, estava a morada. Disse-me então; “Get in!” Ele tinha ali parado para ir comer algo ao snack-bar mas, como era uma zona relativamente próxima e não tinha que entrar na cidade, podia extender o seu horário de trabalho.

Foi muito fixe a atitude. Durante a viagem, reparei que ele tinha um sistema de navegação assistido por voz perguntei-lhe qual era; Tom Tom. Viemos o resto da viagem a falar de GPS, pda, etc, etc… até lhe mostrei o meu pda com o CoPilot. A certa altura disse-lhe que era português e fez uma grande festa. Até disse a palavra “Portugal” numa pronúncia correcta. Foi muito simpático este motorista de taxi. Tipo novo, com inglês correcto – melhor que o meu – e bastante evoluído tecnológicamente e com uma condução correcta. Só teve um gesto um pouco mais irónico quando lhe disse que Munique tinha sido uma desiluão para mim porque esperava algo mais “montanhoso” e com neve ou gelo e ele disse que Munique é toda plano e este Inverno está a ser um dos mais quentes das últimas décadas mas que Munique era muito “clean” – ok… nós, portugueses, merecemos esta observação porque somos mesmo uns cidadãos muito porcos que fazemos das ruas das nossas cidades os nossos caixotes de lixo. Engoli.

No dia seguinte, 18 de Janeiro, era o dia principal de trabalho que me levou a Munique, à sede da Axxom.









Não tinha grandes intenções quanto ao geocaching excepto, talvez uma micro-cache colocada num parque de estacionamento a 250m do escritório onde iria passar o dia – tinha até a “boa intenção” de fazer um log simpático mas completamente em português porque a cache só está em alemão – mas o trabalho absorveu-me completamente e até almoçámos na sala de reuniões – devo dizer que comi umas sandwiches de salmão muito boas -. Não houve geocaching neste dia.

Houve sim …a tempestade Kiryl! A meio da tarde, quando já se tinha revisto toda a matéria e tomado todas as decisões – só faltava vê-las implementadas no dia seginte, sexta – e até já pensávamos ir jantar ao centro da cidade, na Marien Platz a um restaurante de comida genuína bávara, veio a notíca de alerta geral e que todas as grandes companhias estavam a mandar os colaboradores para casa e os serviços públicos iam fechar. tivemos que acabar o nosso dia de trabalho pelas 16h00 e irmo-nos enfiar no Hotel

A príncipio custou-me a acreditar – olhando pela janela não se percebia motivo de tanto alarme – e até pensámos que era excesso de zelo da parte dos nosso interlocutores alemães. Mas depois a noite e as notícias confirmaram que passou por ali uma tempestade que matou 10 pessoas só em Munique. Eu, mesmo no Hotel, nunca encarei aquilo como mais que uma ventania forte na zona e o “vizinho” da frente do meu quarto também não parecia muito preocupado; com os ventos na sua maior fúria; andava pendurado na varanda a compôr a antena de televisão…









Aproveitei a “reclusão forçada no quarto” para fazer o relatório sobre o dia de trabalho. Ainda pensei em sair e visitar uma cache que estava a cerca de 2kms, a pé, do Hotel mas lembrei-me que podia levar com alguma “publicidade agressiva” na cabeça… E afinal, além de ser noite, estava frio, vento, alguns pingos… Que se “licsse”. Já tinha cumprido o meu objectivo de geocaching na Alemanha e o geocaching, para mim, deve ser prazer e não sacrifício.

Fui jantar com a minha colega ao restaurante do Hotel; Comi um Bife Tártaro grelhado e acompanhado com uma das melhores e mais diversificadas saladas que já comi – até tinha lá uma erva qualquer que só se encontra na Europa do Norte, disse a minha colega – e também bem regada com duas “weiss beer” de meio litro… Quero mais projectos como este.


Durante o jantar falei de geocaching à minha colega e mostrei-lhe uma stashnote e o artigo na revista Público, a quem dei uma das entrevistas, e até lhe mostrei uma microcache que tinha no bolso, propositadamente para esta explicação. Ficou surpresa com a minha “vida secreta”. Falei-lhe da cache perto do escritório e numa um pouco mais longe, a 400m, já no Botanische Garten. Iríamos tentar encontrar estas duas no dia seguinte, após terminarem os trabalhos, se pudesse ser.

No dia seguinte, após o pequeno almoço no Hotel e tendo pago a conta, pedi taxi para nos levar ao escritório da Axxom e, surpresa, apareceu-me outra vez o taxista que me tinha levado até à floresta da “Mann im Baum”. Parecia que já nos conhecíamos de longa data e até os outros clientes pareceram surpresos por verem um conversa tão animada entre um cliente e um taxista. ;-)

Em termos de geocaching para este dia, os objectivos seriam talvez a tal microcache do parque de estacionamento a 250m e a cache regular que estava no Jardim Botânico de Munique, a cerca de 400m. Mas, o trabalho arrastou-se até muito em cima do hora do almoço e os colegas alemães fizeram questão de nos levar a almoçar fora porque não tinha sido possível jantarmos juntos no dia anterior. Lá se fez o sacrifício de ir almoçar a um restaurante tipicamente alemão, o “Jagdschloss”, onde comi o “bambi” (Hirschbraten mit Rotkraut, Preiselbeeren und Spaetzle = Deer with red cobbage, berries and pasta), desta vez apenas acompanhado por meio litro de weiss beer.

Depois, do almoço voltámos ao escritório onde fizémos uma revisão do trabalho deste dia e meio e ficámos de ver o resultado na semana seguinte porque era impossível os técnicos da Axxom aplicarem as alterações antes disso.

Depois, e como havia notícia de alguns voos desviados de Munique, fomos mais cedo para o aeroporto onde tive tempo de sobra para comprar um verdadeiro relógio de cuco para dar à Mila. :-)

Em termos gerais, Munique e os alemães foram uma surpresa para mim; Munique, plana, sem frio, nem gelo ou neve (mas, uma semana mais tarde, recebi uma foto, tirada de dentro do escritório, onde se via que falhei a neve por uma semana). Confirmei que é uma cidade limpa onde apenas notei algumas beatas no chão. Fiquei muito impressionado com o estado de prontidão para o uso de biciletas no dia-a-dia dos alemães; muitos parques de bicicletas juntos de edifícios de habitação, escritórios e espaços públicos.








Também vi folhetos de aluguer de bicicletas e passeios tuísticos em bicicleta orientados por um guia que explicava os pontos por onde se passava.

Os alemães, pelo menos aqueles com quem conversei, mais simpáticos e afáveis do que “esperava”. Em termos de condução, nada de muito diferente do que nós somos; vi-os a desrespeitar os limites de velocidade, a abrandar perto dos radares e, pasme-se, a fazer mudanças de direcção proibidas para fugir ao trânsito – aconteceu com o taxista que nos levou da Axxom para o Hotel, na quinta-feira…

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Viv'ó Touro!

Hoje fiquei revoltado com as imagens que vi na TV, de manhã, antes de ir para o trabalho; Num país latino, uma tourada onde o touro resistiu teimosamente à morte que tentavam infligir-lhe na arena. O touro resistiu para além do normal às sucessivas estocadas e investiu contra o toureiro, ferindo-o. Depois, já com o touro quase moribundo e de quartos traseiros no chão, um forcado espetava calmamente a espada no touro tentando acabar o que o toureiro não tinha conseguido fazer; matar um animal que, por superior sabedoria da raça "humana", foi condenado a morrer para divertimento dos homens. Sou frontalmente contra a morte ou, apenas sofrimento físico, de animais para divertimento da raça superior e sustentação de um negócio que são as touradas. Rejubilei com a investida final do touro contra o forcado e lamento que se continue a achar que este tipo de morte seja nobre e defensável à luz da tradição e herança cultural das populações. Uma coisa é matar para comer - a natureza baseia-se nessa realidade. O touro também mata seres vivos, embora vegetais, para sobreviver. Outra coisa é matar por divertimento. Não lamento, de maneira nenhuma, os ferimentos infligidos pelo touro ao toureiro e ao forcado. Mereciam até mais. Afinal, o touro estava, de forma desesperada e atabalhoada, a lutar pela vida que lhe foi atribuída pela natureza. Assina: Manuel Antunes

terça-feira, janeiro 09, 2007

Que maravilhas de Portugal...

Recentemente fiquei conhecedor do projecto de eleição das 7 Maravilhas de Portugal. Interessei-me logo pelo assunto e achei grça mas também lógico que sendo Portugal a sede da apresentação oficial das novas 7 Maravilhas do Mundo, se realizasse algo similar para eleger as portuguesas.

www.7maravilhas.pt

Temos muitos e bons monumentos - ou não fosse Portugal um dos reinos mais antigos e carregados de história do mundo - e escolher os 7 mais significativos é, agora, um desafio que foi lançado aos portugueses. Eu já e aceitei e indiquei as minhas escolhas. Fiquei também a saber algo mais de alguns monumentos que não conhecia (embora, por questão de coerência, tenha votado nos que conheço). Ouxalá, iniciativas como esta levem a que Portugal e os portugueses comecem a preservar melhor os seu património. Ah! E já agora, a manter os monumentos abertos ao público nos dias em que o público tem mais disponibilidade para os visitar; fins de semana e feriados.

domingo, janeiro 07, 2007

Acabei 2006 em força - IV - Erges.

Dia 30.

Após a agradável criação da cache "Abutres!", desloquei-me até a zona da fronteira em Segura, Rio Erges. A viagem foi brindada com uma paisagem sempre muito verde e agradável.

Chegado lá, fui logo espreitar a fronteira. Deparei-me com uma ponte sobre o Rio Erges, de traça inicial de estilo romano e dois postos fronteiriços; do lado de Portugal, já transformado em Posto de Turismo, do lado de Espanha, aparentemente fechado. As primeiras impressões foram para o forte caudal do rio, para o estreito montanhoso que parece estrangular o rio com se fosse umas "portas do Ródão" e para a existência de uma painel informativo (em muito bom estado) que descreve a região e apresenta um percurso pedestre de visita à zona ribeirinha e às diversas minas abandonadas da região.














Desloquei-me logo para a zona que tinha referenciada, "atravessou o rio Erges perto de Segura, um pouco para cima dos moinhos, antes da fronteira".

Comecei logo a ficar agradado com o local. Pareceu-me interessante para uma cache mesmo sem tema. Apenas como local.















Andei então o resto da tarde a espiolhar todos os pontos e estradões que se afastam e regressam junto do rio, tendo para isso que desviar algumas árvores que os madeireiros deixaram nas estradas florestais, tentando perceber por onde se deslocariam as pessoas que emigraram às escondidas. Por onde teriam exactamente atravessado, que estradões teriam tomado, já do lado espanhol para se deslocarem até à povoação de Piedras Albas onde retomaram o meio de transporte que os tinham trazido até à entrada de Segura.

Comecei a perceber que ia ser difícil colocar um dos passos da multicache do lado de Espanha porque o rio estava com um caudal considerável (não bastava arregaçar as calças e calçar umas sandálias).










Quando terminei o reconhecimento do local, já escurecia e decidi que tinha que ficar na zona para colocar a "A Salto". Como já estava preparado para isso, foi só fazer o telefonema à Mila e desligar rapidamente o telefone para preservar a saúde dos meus tímpanos.

Dirigi-me então ao centro da povoação onde falei com duas pessoas para confirmar as informações quanto aos locais de atravessamento do rio e indagar sobre locais de pernoita.
Os locais de atravessamento, sim, eram os que imaginava, a pernoita, não, só em Termas de Monfortinho. Ali só havia o "33", um restaurante.

Rumei a Termas já com o Sol posto onde cheguei e fui arranjar dormida e tomar banho. A pensão Batista pareceu-me uma boa solução em termos de preço-qualidade. Simples, sem luxos mas com tudo o que precisava; um quarto aquecido, com casa de banho e TV (vícios...).

Tomei banho e fui jantar a uma restaurante que me indicaram na pensão. Aí escolhi um versão regional do Naco na Pedra; o Bife na Pedra. Resultou muito bem e adorei. Enquanto comia, verificava as novidades do dia, tanto em relação a mails como a novidades no www.geocaching-pt.net e até respondi num post dedicado a esta colocação de cache, "A Salto".


Após o jantar, começou a choviscar e o vento estava frio mas como era relativamente cedo e não tinha sono, resolvi começar a tratar de um "dos objectivos secretos" que tinha para esta deslocação; visitar os vértices da "Triangle of History", multi cache que ando a tentar resolver desde o Verão/2006 - esta vai por passos.

Afinal correu bem e antes da meia noite tinha a voltinha do "triângulo da história" feita, coordenadas obtidas e ...era hora do xixi-cama.


Tinha pedido para ter o pequeno almoço cedo, pelas 7h30. Acederam com relutância tentando "negociar a coisa" para as 08h30 mas eu estava decidido e às 7h25 estava na sala de refeições.


Iniciei o regresso a Segura. O tempo estava muito diferente do dia anterior; muito nevoeiro e chuva miudinha. Ia ser um dia de geomolhas e geolama. Mas tinha a lição estudada; obter coordenadas dos locais de acesso à zona ribeirinha, obter coordenadas do local de estacionamento, colocar a cache final e ir pelo lado de Espanha, tentar aproximar-me da Ribera de Erjas (nome espanhol) por um dos vários caminhos que, desde Piedras Albas, se dirigiam para o Rio e que terão sido percorridos, em sentido contrário, pelos emigrantes "a salto".


Correu tudo bem excepto a parte final; conseguir chegar ao Rio pelo lado de Espanha. Tentei variadas aproximações mas acabava sempre por esbarrar em vedações de madeira e arame com placas que diziam, "Coto de Caza Privado". Parece que houve mudanças nas últimas dezenas de anos, quanto à organização das terras do lado espanhol...
A minha ideia era colocar um dos passos no lado espanhol do rio (tinha autorização do approver) para levar os visitantes da minha cache a experimentarem a sensação de passarem a fronteira como o fizeram os emigrantes; Quando o caudal do rio estivesse maior, como estava agora, iam de carro por Piedras Albas e usufruíam apenas do passeio. Quando o caudal do rio o permitisse, atravessavem o rio a pé e iam visitar o ponto do outro lado.

Assim, com a impossibilidade de colocar, nesta altura, um ponto em Espanha porque, por um lado o Rio tinha o caudal muito forte - parece que houve obras e aterros que estreitaram o leito - e, por outro lado, porque foi impossível chegar à outra margem pelo lado de Espanha, levei a cabo o meu plano B; colocar todos os pontos em Portugal, levando os visitantes a verem, sem experimentarem, os pontos de atravessamento do Rio Erges. Mais tarde, passarei pela zona para, então com o caudal mais baixo, colocar o tal ponto em Espanha - como no Inverno se verifica que é impossível atravessar o Rio, o tal ponto na outra margem será opcional ou seja, tanto o ponto 2 como o 3 terão as coordenadas do ponto final para que não seja obrigatório atravessar o rio mas o faça apenas quem queira e tenha condições para tal.

Assim, fiz e nesta sessão de escolher locais específicos, tendo em consideração os variados aspectos da colocação de caches, tirando fotos e coordenadas terminei tudo pelas 13h00.

E prontos. Ficou colocada a cache que mais tempo me levou a planear. Não ficou, por agora, como desejava mas irei mostrar Segura, o Erges e a barragem do Tejo em Espanha à minha família (merecem pela paciência que têm comigo) e, nessa altura, colocarei o ponto opcional na outra margem.


Almocei e comecei então a pensar seriamente no segundo "plano secreto" desta deslocação; visitar a "Epigenia do Ceira". Enquanto comia, lia a descrição da cache, calculava no CoPilot a hora de chegada ao local (18h05, já noite...) e avaliava a metereologia do dia (o nevoeiro tinha desaparecido a meio da manhã mas a chuva continuava a aparecer frequentemente). Como as condições não eram favoráveis e a cache dizia claramente para não ir sózinho, sem luz e com o terreno molhado, desisti da ideia. Estivesse o tempo que tinha estado no dia anterior e conseguisse eu chegar lá antes das 16h00 e tinha lá ido mesmo. Fica para outra altura. Quero mesmo tentar visitar a "Dª. Epigenia".

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Acabei 2006 em força - III - Tejo Internacional

Dias 29 e 30 de Dezembro.


Sexta-feira.

Finalmente chegou a altura de criar a cache que tinha planeado hà mais de uma ano; "A Salto", uma cache dedicada à emigração ilegal, "a salto", às escondidas das autoridades, muitas vezes sem papéis que assegurassem trabalho no País de destino mas cheios de sonhos e esperanças. Impulsionados ou empurrados pelas dificuldades da vida por cá, milhares de portugueses enfrentaram momentos de angustia, escondidos por caminhos, estradas, camionetas, montes ...como se fossem criminosos.

Nos últimos dias tinha feito diversas diligências de preparação, incluindo um mail ao approver das caches em Portugal para me assegurar que as minhas intenções não iriam esbarrar nas guidelines do gc.com. Nessas diligências também obtive informações mais precisas, junto da minha família, àcerca do local exacto em que a minha Tia teria passado a fronteira. Esta seria uma cache que pretendia fazer uma homenagem também a ela. Queria mesmo colocá-la nesta altura do ano porque foi aquela em que ela saíu "a salto" de Portugal.

Devido às últimas informações, que me levaram a alterar os planos que apontavam para fazer uma cache que começaria na zona das margens do Tejo Internacional e incluíriam um percurso extenso que, provavelmente obrigaria a pernoita no campo, decidi fazer duas caches; uma na zona do posto de observação de alados no Tejo Internacional, a "Abutres!" e a cache dedicada à emigração.

Mais uma saída cedinho, antes de as galinhas acordarem, e pelas 9h30 estava em Rosmaninhal. Depois de passar alguns kms mais à frente pela povoação de Soalheiros, acabou o asfalto e foi "navegar" através do ozi, por estradões de terra, até ao local das instalações da Quercus.












Só o percurso até ali já prometia muito. Cerca de 9kms em linha recta mas bastante mais em percurso andado.

Ao longe via os abutres a pairarem no ar, voando em círculos e tirei logo algumas fotos embora a distância fosse grande.

Junto à Quercus, comi umas barritas e fui logar um marco geogésico para o waymarking.

Continuei até ao ponto, junto ao rio onde estaria o posto de observação de alados. Estacionei um bocado antes, junto do início do trilho pedestre e fiz o resto a pé. Chegado à vista do rio, fiquei deslumbrado. Lindo. As duas margens de uma basta vegetação mediterrânica, entrecortada por belos relvados verdes e o rio, imponente, lá ao fundo.












Comecei a procurar maneira de colocar uma multicache e depois de analisar bem a carta do local no ozi, descobri que havia uma casa mais perto do rio, indo por um dos estradões que saíam da bifurcação junto ao local onde decidi deixar o carro. Fui colocar a cache final, tirei fotos e registei as coordenadas.




















Nessa altura reparei que os abutres estavam a voar por cima de mim. Curiosidade? Escondi-me da vista deles e disparei a máquina repetidas vezes. Eram muitos e conseguia ouvir o vento nas penas deles. A excitação era grande e até me lembrei de me deitar no chão, fingindo-me morto mas com a máquina pronta a disparar. Talvez eles se aproximassem e tirasse boas fotos. Sorri da minha ideia mas não a levei a cabo. Afinal, eu estava sózinho e eles pareciam ser muitos. Mais de 20, pensei eu (alguém notou, mais tarde, nas fotos, que eram 37!).


Alguns minutos depois, afastaram-se em direcção à outra margem do rio.











Depois dirigi-me ao local onde me pareceu que poderia "marcar" o início da multicache. No caminho para lá, passei por um dos pontos de alimentação dos abutres de que sabia da sua existência através do site da Quercus. Apesar de não ser surpresa, impressiona sempre ver um animal morto, já sem orelha, olho e faltava-lhe uma pata.




Desagradou-me o facto de ver que os serviços que deixam ali as carcaças de animais mortos em matadouro para alimentar os abutres, também tinham deixado os sacos de sarapilheira com que as levaram para ali - decidi logo que no regresso iria levar os sacos para o trashout.

Segui caminho em direcção ao ponto que seria o inicial da multiccache e, entretanto, pareceu-me ouvir barulho vindo dos arbustos. Parei para tentar ouvir melhor. Lembrei-me que estava perto de um animal morto o que atrai outros... Assaltou-me a ideia ... lobos? Náaa.. Não ouvindo nada, continuei a andar até que, alguns metros mais adiante, ouvi claramente o barulho de dois ou três animais, de passada pesada mas rápida, com o som inconfudível de cascos, a afastarem-se pelo meio dos arbustos. Estou convencido que seriam javalis - também referidos no site da Quercus.








Parei e fiquei com a máquina a postos. Mas, ao mesmo tempo, também um pouco apreensivo porque se fossem javalis e houvesse crias entre eles, os adultos poderiam tornar-se agressivos. Nada. Não vi nenhum animal e os ruídos afastavam-se cada vez mais.







Continuei até ao ponto que tinha decidido ir ser o inicial da cache. Chegado lá, preparei o que necessitava (não vou dizer aqui...) e almocei enquanto admirava a paisagem. Muito agradável e calma. Ouvia claramente o som da água do rio lá no fundo.

De regresso ao carro, levei então os sacos do matadouro e fotografei a pata do borrego e mais alguns esqueletos já sem carne que ia encontrando.













Iniciei então a saída daquela zona com a sensação de ter criado uma cache que me deu muita satisfação.

No percurso de regresso, propositadamente não quis ir pelos mesmo estradões e, no ozi, marquei outro percurso até Rosmaninhal. Queria saborear a região, os montes, salteados por prados verdes, rebanhos, cursos de água, arvoredos mas não em demasia, cursos de água... a atravessarem o caminho... Oopsss!











Ia distraído a admirar a paisagem...



O que vale é que sou um gajo desenrascado. Uma volta pela área. Umas pedras, umas cascas de eucalipto cortado e deixado na beira, umas acelerações para dar balanço ao carro e ir acelerando cada vez mais para que os movimentos de balanço sejam cada vez maiores e ...siga! :-)

Alguns quilómetros mais à frente, cheguei à estrada asfaltada, que vem de Soalheiros para Rosmaninhal, encontrei uns contentores do lixo para lá deixar os sacos que transportaram a carne para os abutres e seleccionei no CoPilot o próximo destino; Segura, perto do Rio Erges.