sexta-feira, fevereiro 02, 2007

O Norte descoberto


No regresso ao "Norte", desta vez levámos valorosos reforços. Não apenas as "ferramentas" necessárias (mapas, bussola, cordel, escalímetro) mas também pessoal que está habituado a ler cartas e a orientar-se por elas (Lobo Astuto, Nuno Freittas e Paulo Mateus).

Além destes, outros amigos se nos juntaram para uma caçada memorável. Ao todo, éramos 8;
António, clcortez, Lobo Astuto, MAntunes, MCA NFreitas, Pmateus21 e SUp3RFm.

Subindo e descendo montes, atravessando cursos de água, admirando a paisagem, reparando furos, ensaiando "downhills", carregando as bikes montes acima, trincando algumas buchas enquanto se suspirava por um "monte" assim...
Enfim, foi uma das melhores caçadas de caches que já tive (a par da "Fenda da Calcedónia", "Tou às Aranhas", e "Homem das Cavernas") . A ideia de aliar um percurso extenso, no meio da natureza, recorrendo essencialmente ao uso de bicicleta, obrigando ao uso de mapa para adivinhar o local do próximo ponto, a descobrir o melhor caminho para lá chegar no meio daquele labirinto de trilhos e cursos de água ...encheu-me as medidas. :-)

Como muito já foi dito no post anterior e nos logs feitos na cache, deixo aqui apenas algumas fotos, "inéditas", para cuja publicação obtive autorização:





































































































Não me admira nada se lá voltar. :-)

domingo, janeiro 28, 2007

Um Tuga em Munique

Devido a um projecto de implementação de um software de planeamento fino da Fabrica à qual damos suporte, que se tem arrastado desde o início de 2006, foi decidido que teria que me deslocar a Munique para acertar os últimos detalhes.

Assim que soube, comecei a preparar possíveis visitas a caches perto da empresa (www.axxom.com) e do Hotel onde iria ficar. Escolhi várias caches mas cedo foquei a minha atenção na geocache que ficava numa pequena floresta a cerca de 15 kms do Hotel. Despertou-me a atenção porque estava num local remoto, embora relativamente perto, porque tinha descrição em inglês, porque era regular e, embora fosse multi, parecia relativamente simples de resolver. A cache escolhida foi a Mann im Baum. Também pensei num cache mistério baseada na codificação de barras, code 39, interleave 3of9, mas não consegui arranjar um leitor de código de barras que lê-se o código impresso em papel...

Apesar da dificulade em arranjar hotel por causa de uma Feira de Engenharia Civil, em Munique, que nos fez procurar um hotel mais longe do escritório da Axxom, mantive a minha escolha preferencial e comecei a divulgar a minha deslocação com o objectivo de dar a conhecer que poderia transportar alguns trackables (TBs/Geocoins) de Portugal para a Alemanha.

Adicionalmente, comecei a preparar as deslocações entre o Hotel e o escritório e entre o Hotel e algumas caches que referenciei. Imprimi os percursos do Google Maps e criei bookmark listings e pocket queries para o efeito. Refiro só que, num raio de 30 kms do Hotel, havia mais de 500 caches.

Também enviei um mail ao owner da cache “prioritária”, o "Geomane" para saber se a cache seria desaconselhada durante a noite - após as 18h00 é noite e não queria entrar em situações complicadas na Alemanha. Ele foi bastante simpatico em responder-me dizendo que o local não é perigoso porque não hà lá animais que possam causar dano e que só necessitava de uma lanterna de media capacidade e que até me poderia acompanhar. Purista como sou, agradeci-lhe e respondi que não precisava da ajuda e que a minha preocupação não era com a fauna natural mas com a outra "fauna"…

Assim, no dia do evento "Wacky Races" desloquei-me à cache G-Spot e, para minha surpresa, ainda lá estava a geocoin listada e que cujo destino era o Japão. Depois, de tarde, no evento, os Rifkinds engtregaram-me dois TBs que se destinavam a Holanda e á Hungria; o Rubik e o The Iceman's Truck.

Feita a "colheita" e chegado o dia da viagem lá fui eu, pela primeira vez na minha vida, até à Alemanha.

A viagem de avião correu bem, embora com um pequeno atraso na partida.

Notei a passagem pelo Norte de Espanha, Lyon e Geneve mas fiquei surpreendido quando nos mandaram apertar o cinto porque estávamos a aproximar-nos de Munique. Já?

Chegados a Munique (fui com uma colega de trabalho que é a responsável pelo Planeamento da Fábrica) dirigimo-nos ao Hotel para fazer o check-in e deixar as malas e, enquanto ela saíu disparada para a Marien Platz, no centro de Munique, para ouvir um concerto de carrilhões e ver a Leo Parade (equivalente à nossa Cow Parade), eu fiquei a desfazer a minha mala e a preparar-me para ir procurar a cache referida acima.

Depois fui pedir um taxi na recepção e quando ele chegou, mostrei o percurso do Google Earth para tentar explicar onde queria ir e o motorista fico admirado com a informação detalhada e com o evoluir da tecnologia que me permitiu, em Lisboa, preparar um percurso a fazer em Munich.

Chegado à zona perto da floresta onde estava a cache, parecida com a Matinha de Queluz mas mais extensa, coloquei-me na orla da mesma à espera do sinal de GPS. Eu já sabia que ia demorar porque tinha desligado o GPSr pela última vez em Lisboa e não podia dizer-lhe que estava em Munique, Alemanha como se pode fazer nos receptores de mão. Por isso, foi uma espera stressante por causa da dúvida que comecei a ter em conseguir ter sinal. Estava também preocupado porque tinha levado TBs e uma geocoin e “tinha” mesmo que os deixar na Alemanha. Ao fim de quase meia hora, já sem saber como disfarçar a minha presença – estava numa zona industrial, perto de um parque de estacionamento, na orla de uma floresta e teria dificuldade em explicar a minha presença ali – lá começou a vir o sinal com alguma hesitação inicial. Assim, que o GPSr me disse, “íííiii páaaaaa! tamos bué da longe do local onde adormeci!”, lá entrei na floresta já com a luz do dia a começar a faltar.

Esta floresta confirmou em aspecto as impressões sobre a famosa “floresta negra” na Alemanha e que é referida em filmes e livros de ficção; densa, escura, misteriosa… mas também atravessada aqui e ali por trilhos de terra batida usados para jogging, passeios de bicicleta e para passear o cão – cruzei-me com algumas, poucas, pessoas que, mesmo ao lusco-fusco, davam este tipo de usos à floresta.

Cerca de 1km após ter entrado nela, lá cheguei ao local das coordenadas publicadas. Era um cruzamento de vários caminhos de terra batida onde estava uma estranha capela de madeira construída dem volta do tronco de uma árvore. Tinha velas, placas, datas… um local de culto religioso. E, o mais estranho, uma pequenina estátua metálica de Cristo crucificado emergindo de dentro do tronco da árvore. Como se fosse um ramo a nascer. Soube, dias mais tarde, através de um mail do owner, a história desta estátua:



Hi Manuel,

I'm glad you found the "Mann im Baum", congratulations :-)
As you don't understand german, I give you some information about the reason of the "man in the tree":
In 1945, right after World War II, someone hang a wooden cross with a metal corpus onto a spruce tree. After the years run by, the tree grew and embedded the metal corpus more and more (while the wooden cross disappeared).
In a heavy storm in 1992 the spruce fell. The trunk with the embedded metal corpus remained. In 1994 the chapel was built around the trunk, for the memory of the people who died in the days after the war.

I hope you enjoyed the cache and your Munich trip.



Bye,
Edi aka Geomane




Muito interessante a história do local e um motivo para colocar uma cache naquele local específico da floresta, sem dúvida.

Quando me preparava para colher os dados para o cache final, recorrendo à luz da lanterna, apareceu-me de uma das estradas um cão de médio porte, preto e em atitude indecisa; ignorar-me ou atacar-me? Depois apareceu a senhora que o andava a passear e chamou-o, seguindo ambos o seu percurso…

Tiradas as fotos possíveis com a câmara do pda (sem flash) , obtidos os dados e feitos os cálculos, segui em direcção à cache onde cheguei ao fim de mais algumas centenas de metros. Encontrei a cache facilmente, afastada de um dos caminhos de modo a que fosse mesmo necessário embrenharmo-nos no mato, e loguei-a, deixando os trackables (que alívio! ehehe!) e tirando mais algumas fotos possíveis. Na cache deixei duas pequenas “vingançazinhas” que não reportei no log oficial; escrevi no logbook que escolhi aquela cache porque tinha descrição em inglês e embrulhei a cache num saco, preto, do lixo da CM Lisboa, para melhor proteger a cache visto que a caixa estava sem qualquer protecção. ;-)









Depois comecei a regressar seguindo a track em sentido contrário, já sem qualquer luz natural, embrenhado numa escuridão total, com a lanterna pendurada no agasalho, em direcção à “civilização”. Quando cheguei à zona industrial, onde vi o maior stand de motos BMW da minha vida, comecei a procurar meio de arranjar um taxi para voltar.

Aqui é que foi um problema; a zona é mesmo apenas industrial e nada de residencial ou de grandes centros de negócios. Assim, nada de transportes públicos – autocarros – nem taxis. Dirigi-me a um pequeno posto de abastecimento e procurei por taxi. Não havia. Ficaram muito aflitos por não poderem ajudar-me. Ainda se fez uma pequena conferência entre o empregado da “bomba” e dois clientes mas confirmaram que não havia taxi a não ser que passasse por acaso. Ainda me perguntaram como fui ali parar e respondi-lhe que tinha ido de taxi e vinha “lá do fundo da rua” e que não esperava vir a ter dificuldades para arrnajar taxi para o regresso. Então, pedi-lhes um número de serviço de taxi para chamar um. Só precisava que eles usassem o meu telemóvel e chamassem o taxi, para o caso de o motorista não perceber inglês, porque eu tinha impresso o percurso de volta ao hotel. Também não tinham número de telefone para serviço de taxis…

Bem, iniciei o que me pareceu ser uma longa caminhada de regresso ao hotel a pé, tendo que atravessar duas autoestradas, um rio e uma linha férrea, sem mapas detalhados da zona o que pode ser um problema porque o GPS só me manda ir em frente e não propôe os melhores percursos para o fazer. Fui andando tentando manter-me nas ruas que me pareciam mais frequentadas ou com instalações comerciais/industriais maiores, na esperança de encontrar algum taxi de regresso de algum serviço.

Algum tempo depois, dei com um parque de estacionamento de uma superfície comercial de alguma dimensão, tipo AKI, e vi um taxi a entrar nesse parque. Chamei-o mas ele fez sinal que não aceitava serviços. Como ele parou no parque, segui-o e fui falar com o motorista que já saía da viatura. Expliquei-lhe que apenas precisava que ele chamasse um colega, usando o meu “mobile phone” uma vez que ele estava a acabar o seu tempo de serviço. Perguntou-me para onde queria ir e mostrei-lhe as chaves do hotel onde, na placa, estava a morada. Disse-me então; “Get in!” Ele tinha ali parado para ir comer algo ao snack-bar mas, como era uma zona relativamente próxima e não tinha que entrar na cidade, podia extender o seu horário de trabalho.

Foi muito fixe a atitude. Durante a viagem, reparei que ele tinha um sistema de navegação assistido por voz perguntei-lhe qual era; Tom Tom. Viemos o resto da viagem a falar de GPS, pda, etc, etc… até lhe mostrei o meu pda com o CoPilot. A certa altura disse-lhe que era português e fez uma grande festa. Até disse a palavra “Portugal” numa pronúncia correcta. Foi muito simpático este motorista de taxi. Tipo novo, com inglês correcto – melhor que o meu – e bastante evoluído tecnológicamente e com uma condução correcta. Só teve um gesto um pouco mais irónico quando lhe disse que Munique tinha sido uma desiluão para mim porque esperava algo mais “montanhoso” e com neve ou gelo e ele disse que Munique é toda plano e este Inverno está a ser um dos mais quentes das últimas décadas mas que Munique era muito “clean” – ok… nós, portugueses, merecemos esta observação porque somos mesmo uns cidadãos muito porcos que fazemos das ruas das nossas cidades os nossos caixotes de lixo. Engoli.

No dia seguinte, 18 de Janeiro, era o dia principal de trabalho que me levou a Munique, à sede da Axxom.









Não tinha grandes intenções quanto ao geocaching excepto, talvez uma micro-cache colocada num parque de estacionamento a 250m do escritório onde iria passar o dia – tinha até a “boa intenção” de fazer um log simpático mas completamente em português porque a cache só está em alemão – mas o trabalho absorveu-me completamente e até almoçámos na sala de reuniões – devo dizer que comi umas sandwiches de salmão muito boas -. Não houve geocaching neste dia.

Houve sim …a tempestade Kiryl! A meio da tarde, quando já se tinha revisto toda a matéria e tomado todas as decisões – só faltava vê-las implementadas no dia seginte, sexta – e até já pensávamos ir jantar ao centro da cidade, na Marien Platz a um restaurante de comida genuína bávara, veio a notíca de alerta geral e que todas as grandes companhias estavam a mandar os colaboradores para casa e os serviços públicos iam fechar. tivemos que acabar o nosso dia de trabalho pelas 16h00 e irmo-nos enfiar no Hotel

A príncipio custou-me a acreditar – olhando pela janela não se percebia motivo de tanto alarme – e até pensámos que era excesso de zelo da parte dos nosso interlocutores alemães. Mas depois a noite e as notícias confirmaram que passou por ali uma tempestade que matou 10 pessoas só em Munique. Eu, mesmo no Hotel, nunca encarei aquilo como mais que uma ventania forte na zona e o “vizinho” da frente do meu quarto também não parecia muito preocupado; com os ventos na sua maior fúria; andava pendurado na varanda a compôr a antena de televisão…









Aproveitei a “reclusão forçada no quarto” para fazer o relatório sobre o dia de trabalho. Ainda pensei em sair e visitar uma cache que estava a cerca de 2kms, a pé, do Hotel mas lembrei-me que podia levar com alguma “publicidade agressiva” na cabeça… E afinal, além de ser noite, estava frio, vento, alguns pingos… Que se “licsse”. Já tinha cumprido o meu objectivo de geocaching na Alemanha e o geocaching, para mim, deve ser prazer e não sacrifício.

Fui jantar com a minha colega ao restaurante do Hotel; Comi um Bife Tártaro grelhado e acompanhado com uma das melhores e mais diversificadas saladas que já comi – até tinha lá uma erva qualquer que só se encontra na Europa do Norte, disse a minha colega – e também bem regada com duas “weiss beer” de meio litro… Quero mais projectos como este.


Durante o jantar falei de geocaching à minha colega e mostrei-lhe uma stashnote e o artigo na revista Público, a quem dei uma das entrevistas, e até lhe mostrei uma microcache que tinha no bolso, propositadamente para esta explicação. Ficou surpresa com a minha “vida secreta”. Falei-lhe da cache perto do escritório e numa um pouco mais longe, a 400m, já no Botanische Garten. Iríamos tentar encontrar estas duas no dia seguinte, após terminarem os trabalhos, se pudesse ser.

No dia seguinte, após o pequeno almoço no Hotel e tendo pago a conta, pedi taxi para nos levar ao escritório da Axxom e, surpresa, apareceu-me outra vez o taxista que me tinha levado até à floresta da “Mann im Baum”. Parecia que já nos conhecíamos de longa data e até os outros clientes pareceram surpresos por verem um conversa tão animada entre um cliente e um taxista. ;-)

Em termos de geocaching para este dia, os objectivos seriam talvez a tal microcache do parque de estacionamento a 250m e a cache regular que estava no Jardim Botânico de Munique, a cerca de 400m. Mas, o trabalho arrastou-se até muito em cima do hora do almoço e os colegas alemães fizeram questão de nos levar a almoçar fora porque não tinha sido possível jantarmos juntos no dia anterior. Lá se fez o sacrifício de ir almoçar a um restaurante tipicamente alemão, o “Jagdschloss”, onde comi o “bambi” (Hirschbraten mit Rotkraut, Preiselbeeren und Spaetzle = Deer with red cobbage, berries and pasta), desta vez apenas acompanhado por meio litro de weiss beer.

Depois, do almoço voltámos ao escritório onde fizémos uma revisão do trabalho deste dia e meio e ficámos de ver o resultado na semana seguinte porque era impossível os técnicos da Axxom aplicarem as alterações antes disso.

Depois, e como havia notícia de alguns voos desviados de Munique, fomos mais cedo para o aeroporto onde tive tempo de sobra para comprar um verdadeiro relógio de cuco para dar à Mila. :-)

Em termos gerais, Munique e os alemães foram uma surpresa para mim; Munique, plana, sem frio, nem gelo ou neve (mas, uma semana mais tarde, recebi uma foto, tirada de dentro do escritório, onde se via que falhei a neve por uma semana). Confirmei que é uma cidade limpa onde apenas notei algumas beatas no chão. Fiquei muito impressionado com o estado de prontidão para o uso de biciletas no dia-a-dia dos alemães; muitos parques de bicicletas juntos de edifícios de habitação, escritórios e espaços públicos.








Também vi folhetos de aluguer de bicicletas e passeios tuísticos em bicicleta orientados por um guia que explicava os pontos por onde se passava.

Os alemães, pelo menos aqueles com quem conversei, mais simpáticos e afáveis do que “esperava”. Em termos de condução, nada de muito diferente do que nós somos; vi-os a desrespeitar os limites de velocidade, a abrandar perto dos radares e, pasme-se, a fazer mudanças de direcção proibidas para fugir ao trânsito – aconteceu com o taxista que nos levou da Axxom para o Hotel, na quinta-feira…