sexta-feira, março 21, 2008

A Rota do Contrabando ou...

...como classificar um dia destes?

Tinha grandes planos para este dia 15 de Março de 2008.

Planos traçados desde hà umas semanas e que incluíam;


  • fazer a verificação/manutenção da minha cache 'A Salto',

  • percorrer a 'IX Rota do Contrabando' e colocar uma nova cache no local de travessia dos contrabandistas,

Comecei a viagem pelas 23h55 de sexta-feira, depois de dormir um pouco e de tomar um duche antes de iniciar viagem - por isso não fui ao GeoMeetup.

Por volta das 3h15 estava em Segura a aproximar-me da cache. Assim que cheguei, verifiquei-a e verifiquei que estava lá e não tinha desaparecido nada. Estava apenas um pouco mais escondida devido à movimentação de terras. Mudei a folha das coordenadas, por uma nova, e fui verificar também o 1º ponto. Tudo ok. Não verifiquei a cache final porque o local é complicado de andar em escuridão total e, confesso, não me sentia ali muito bem sózinho, àquela hora da noite.


Siga para Montalvão, onde tinha que estar pelas 08h30. Ainda parei em Zebreira para fazer o log por volta das 04h30, porque

gosto de ter o expediente sempre em dia e sabia que o resto do dia iria ser duro e sem tempo para computadores.

Cheguei a Montalvão pelas 06h00 e depois de fazer um reconhecimento, decidi parar e dormir mais uma horita ou duas até amanhecer.

Chegadas as 08h05 começou a chegar pessoal e comi o pequeno almoço que levava comigo - fiz bem em ir preparado porque não havia local para comer.

Dirigi-me ao Castelo de Montalvão e, registei na máquina o primeiro ambiente do dia; pessoal a começar a juntar-se ansioso e entusiasmado pela caminhada que se aproxima.




Havia de tudo; Homens, mulheres, novos, velhos, assim assim e moços e moças novas.

Depois decidi até à zona do secretariado e registo e levei o carro porque tinha estacionamento em recinto fechado garantido.

Tive azar (ou inépcia); ao fazer marcha-atrás em curva, bati com a roda da frente esquerda numa árvore. Foi mesmo apenas a roda. Nem um risco ou amolgadela na chapa do carro. Resultado, ao príncipio não muito evidente, fiquei com a direcção 'abandalhada', a virar por sua vontade própria e nas rectas a pender ligeiramente para a esquerda. Tabém, para seguir a direito, tinha que ter o volante como se estivesse a virar para a esquerda. Não se augurava nada de bom e comecei logo a ficar sériamente preocupado...

Mas não tive coragem de espreitar por debaixo do carro.

Decidi seguir com o programa em frente no que dizia respeito à Rota e depois, ao regressar a Montalvão, analisava a situação e decidia sobre o que fazer. Naquela altura recusava-me a aceitar a ideia de poder ter o dia estragado.

No secretariado da Rota, deram-me um mapa, um folheto, uma fitinha evocativa da caminhada e uma senha para o almoço em Cedillo. e registaram a minha presença.

À hora marcada e após umas breves palavras, a Rota começou a andar. Éramos 250 'contrabandistas' (as inscrições completaram todas as vagas existentes) acompanhados por Bombeiros de Nisa, membros da Organização (Inijovem) e pessoal da Protecção Covil, mais uns quantos carros TT que estavam a postos para o que fosse preciso.

O dia prometia, o pessoal estava animado, as conversas em português e em castelhano misturavam-se e eu apreciava os bastões de caminhada de algumas pessoas; feitos em madeira e com fitinhas coloridas pregadas no topo.

Sabia, pela fitinha que me tinham distribuído, que cada uma correspondia a uma caminhada. Notava também, com um sorriso nos lábios, que algumas pessoas tinham GPSr.

A caminhada prosseguia, agora, por entre estradões ladeados por velhos muros de pedra e algumas ruínas do que terão sido casas rurais no meio de campos, de pastagens verdes. E notava, uma paisagem agradável e, simultaneamente, melancólica pela evidência, uma vez mais, do desaparecimento da faceta rural do nosso País.

Começámos a descer em direcção ao Rio Sever que fica no fundo de uma profunda e estreita garganta - ao longe, ainda perto de Montalvão, olha-se em frente, em direcção a Espanha e parece que os montes suaves do lado de Portugal têm ligação com os do outro lado da fronteira mas só mais perto do Rio se adivinha a canseira do desce e sobe que é preciso para o passar.

Nesto local foi feito o primeiro abastecimento; um saco com uma garrafa de água, uma laranja e uma barrita.

Descida a encosta, pelo progresivo apertar do caminho, começo a recear o 2º azar do dia; como é que vou esconder uma cache num caminho apinhado com 250 'contrabandistas'?

Éramos tantos e o caminho transformou-se tão apertado, uma vereda onde só passava uma pessoa de cada vez que ficámos ali parados à espera que a fila avançasse. Enquanto os primeiros já estavam a ser transportados de barco para a outra margem - era assim que o contrabando passava a fronteira naquela zona - os últimos ainda estavam a iniciar a descida...

Os meus receios confirmaram-se; perto do local de embarque, na Fonte de Bica, local que eu tinha referenciado pela leitura do blog da Rota e pelo TPC no Ozi, não havia possibilidade de escolher um sítio para colocar a cache nas calmas porque aquilo estava apinhado de gente.




Ainda subi um pouco a encosta e tirei uma foto do pessoal mas qualquer movimento fora do normal era logo acompanhado pelos olhares de várias pessoas de um e de outro lado do caminho.

Passados largos minutos de indecisão, e como o local já estava a ficar um pouco mais desanuviado porque já estavam a embarcar os últimos grupos, decidi ir até um pouco atrás no caminho para tentar esconder a cache, tendo justificado 'vou fazer um xixi' a quem me olhou surpreso por me ver afastar em direcção oposta à da marcha.

A ideia até parecia poder resultar não fosse...

Como sou esquisito a procurar local para colocar as caches e não consigo atirá-la para o primeiro monte de silvas que me aparece - apesar do que por aí se diz -, demorei um pouco a colocá-la e entretanto comecei a ouvir vozes a chamarem-me... para ajudar à festa, o PDA bloqueou e perdeu a ligação bluetooth com o GPSr - problemas no emissor de rádio a que eu já estou habituado mas naquele momento não tinha nem a calma nem o tempo para os resolver. Ainda fiz reboot ao PDA mas, e porque não estava com a calma necessária, esqueci-me de fazer reboot ao GPSr. Resultado; a certa altura e após vários chamamentos por mim, vejo aparecerem-me um Bombeiro e dois agentes da Protecção Civil a olharem para mim espantados com a minha atitude - 'Então?! Que se passa? O último barco vai arrancar!'. Olho para a outra margem e vejo uma fila interminável de pessoal a subir a encosta do lado de Espanha, com os primeiros já a atingirem o cimo.

Com a cache esocndida no local, quase debaixo dos meus pés, não podia tirá-la à frente deles. Não tinha conseguido registar as coordenadas e estava perturbado pela situação e pelo que tinha acontecido ao carro - embora eu ainda não soubesse muito bem o quê. Decidi então abandonar a Rota e dizer aos agentes que tinha à minha frente que tinha recebido um notícia pelo telemóvel que me tinha perturbado e que tinha que regressar. Mentiroso. Mas não podia dizer que estava a esconder uma cache... Pensava eu que podia ficar ali nas calmas a registar as coordenadas e depois regressava a pé a Montalvão, analisava os estragos no carro e decidia sobre o resto do programa...

Esta colocação de cache até tinha sido comentada com um dos membro da Direcção da Inijovem e eles mostrarem concordância e satisfação pelo facto;




From Inijovem

to me

Date: 5 Mar

Olá, uma vez mais

Não temos a menor dúvida no que significa, em termos futuros, a colocação de um geocache na Rota do Contrabando, se ela há 9 anos a este parte tem reunido cada vaz mais factores de interesse, esse certamente será uma mais valia a acrescentar ao percurso, pese embora, o mesmo nunca ser completamente igual de ano para ano, mas esse é um factor de menor importância e que pode ser sempre ajustado. Já agora e como informação adicional existem 2 percursos pedestres homologados pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal na zona onde iremos realizar esta caminhada: PR7 Entre Azenhas (onde se inicia a Rota do Contrabando) e a PR8 Trilhos do Moinho Branco, os dois junto ao Rio Sever, é sempre mais uma alternativa para a colocação de geocaches. Para mais informações sobre estes e outros percursos homologados no nosso concelho poderá consultar o site oficial do Municipio de Nisa em www.cm-nisa.pt .


Mas eles, o Bombeiro e o das Protecção Civil, insistiram em que eu fosse com eles porque não podia ficar ali sózinho e eles davam-me boleia até Montalvão. Não resiti para não levantar suspeitas... e também não devia dar resultado. 'Terei que cá voltar para esconder a cache no melhor lugar possível e obter as coordenadas', pensei eu. 'Não é nada de saúde ou mal estar, é apenas uma notícia que recebi e que me tirou a vontade de continuar. Voltarei, nem que seja para percorrer o PR7, Caminho das Azenhas', reforcei eu. Ao que me responderam, 'Não venha sózinho!'. Pois...

O regresso a Montalvão teve de assinalável apenas o espectáculo de se ver uma fila interminável de pessoal a subir a encosta do lado de Espanha - não pude tirar fotos porque a Pickup amarela da Protecção Civil não parava de abanar e saltitar caminho acima, num daqueles trilhos onde parece impossível circular. Como eu ia na caixa, no dia seguinte ainda tinha dores no rabo. :-)

Chegados a Montalvão, abriram-me os portões do recinto onde ficaram os carros e tirei o meu. Despedi-me do Bombeiro e dos Agentes da Protecção Civil e afastei-me umas centenas de metros com o carro a continuar a ter aquele comportamento estranho e preocupante, especialmente quando virava a direcção ou circulava devagar.

Parei então numa recta espaçosa e fui espreitar por debaixo do carro. Era o que temia, a barra de direcção da roda da frente esquerda tinha entortado e estava mais curta o que provocava um afunilamento das rodas (foto doa direita em comparação com a da esquerda).





Bem, vou já andando para casa devagar e vou procurando uma oficina por onde passar. A 'Fisga do Tejo' fica também para outro dia quando cá voltar...

No caminho para V. V. Ródão ainda tive que passar numa zona de ligação de um Rali popular, com GNRs a controlarem o trânsito e condutores 'quentinhos' pela competição em que estavam envolvidos. Receei que algum dos GNRs reparasse na dificuldade com que eu e o meu carro íamos...

Continuei. E o carro começava a chiar nas curvas. A estrada era sinuosa e os meus receios maiores.

Em V. V. Ródão parei num posto de combustível, mesmo após atravessar o Rio Tejo, e perguntei por uma oficina onde me pudessem ajudar. Perguntaram-me o que era e concluiram que não tinham ali naquela povoação oficina que me pudesse ajudar. 'O mais perto é em Castelo Branco', disseram-me. Mas eu queria ir para Sul.

Decidi seguir para Sul, devagar. Por um pouco mais da distância, ao menos estava a aproximar-me de casa e não a afastar-me. Se tivesse que pedir reboque, a distância do serviço era menor. Em Abrantes saía da AE e procurava ajuda. Era Sábado, ainda antes de almoço, e devia conseguir alguma coisa. Por outro lado, estava numa AE onde hà mais apoio do que numa EN, em caso de necessidade.

Na AE o comportamento do carro era um pouco melhor porque se trata de rectas e curvas largas. Enquanto nas estradas não conseguia andar a 50, na AE o carro embalava facilmente para os 90, 100 - eu pensava que tinha que ir a 60, 70. Mas fui refreando o andamento, seguia sempre na direita, volante bem agarrado, com os cotovelos fincados nos encostos, evitava ultrapassagens e estava sempre com atenção à berma caso fosse necessário atirar para lá com o carro.

Parei em todas as AS e fui notando que o desgaste dos pneus da frente era cada vez maior nas zonas exteriores (abaixo, os pneus esquerdo e direito da frente na AS Abrantes).








Como o carro se portava bem, decidi continuar em diecção a Lisboa, depois de telefonar ao meu cunhado que é Pintor profissional de automóveis e é o desenrrascador oficial da família - percebe um pouco de tudo - 'Traz-me o carro!' 'Pois... vamos lá a ver se chego a Lisboa...'

E assim fui seguindo, parando em todas as AEs, perguntando por oficina - mas nenhuma tinha - verificando os pneus, deitar-lhes água porque aqueciam muito e rogando pragas à minha descontração ao sair do estacionamento em marcha a trás. Mordisquei umas barritas, tomei cafés e comi salgados numa das AEs e assim fui enganando a fome.

Pelas 15h00 estava em Lisboa. O meu cunhado deu-me a morada que introduzi no CoPilot e fui ter com ele, já quase sem direcção assiatida quando cheguei lá já com alguns filamentos metálicos à vista nos pneus...

Feito o relatório, fui comer qualquer coisa mais mastigável e, quase no fim, aparece o meu cunhado a pedir-me uma imperial. 'Já está! Agora vai comprar dois pneus novos e calibrar e alinhar a direcção'. Eu já contava com isso, obviamente. Não contava era com a rapidez e eficiência dele. O braço da direcção da roda esquerda estava direitinho!

Levei o carro à casa de pneus mais perto, a do estacionamento do Colombo. E foi assim que dei comigo a passear num Centro Comercial, pelas 16h30 de um Sábado em que ia percorrer a 'Rota do Contrabando' e visitar a 'Fisga do Tejo'...

Brevemente, penso ir recolher as coordenadas e talvez mudar um pouco o local da cache e visitar a 'Fisga do Tejo'. Espero que não chova, porque os terrenos parecem-me pesados quando empapados e tenho que manter o carro afastado das árvores. :-)

No próximo ano tentarei novamente percorrer a Rota do Contrabando.

Aqui fica um videofoto do que que foi esta edição.