sexta-feira, janeiro 05, 2007

Acabei 2006 em força - III - Tejo Internacional

Dias 29 e 30 de Dezembro.


Sexta-feira.

Finalmente chegou a altura de criar a cache que tinha planeado hà mais de uma ano; "A Salto", uma cache dedicada à emigração ilegal, "a salto", às escondidas das autoridades, muitas vezes sem papéis que assegurassem trabalho no País de destino mas cheios de sonhos e esperanças. Impulsionados ou empurrados pelas dificuldades da vida por cá, milhares de portugueses enfrentaram momentos de angustia, escondidos por caminhos, estradas, camionetas, montes ...como se fossem criminosos.

Nos últimos dias tinha feito diversas diligências de preparação, incluindo um mail ao approver das caches em Portugal para me assegurar que as minhas intenções não iriam esbarrar nas guidelines do gc.com. Nessas diligências também obtive informações mais precisas, junto da minha família, àcerca do local exacto em que a minha Tia teria passado a fronteira. Esta seria uma cache que pretendia fazer uma homenagem também a ela. Queria mesmo colocá-la nesta altura do ano porque foi aquela em que ela saíu "a salto" de Portugal.

Devido às últimas informações, que me levaram a alterar os planos que apontavam para fazer uma cache que começaria na zona das margens do Tejo Internacional e incluíriam um percurso extenso que, provavelmente obrigaria a pernoita no campo, decidi fazer duas caches; uma na zona do posto de observação de alados no Tejo Internacional, a "Abutres!" e a cache dedicada à emigração.

Mais uma saída cedinho, antes de as galinhas acordarem, e pelas 9h30 estava em Rosmaninhal. Depois de passar alguns kms mais à frente pela povoação de Soalheiros, acabou o asfalto e foi "navegar" através do ozi, por estradões de terra, até ao local das instalações da Quercus.












Só o percurso até ali já prometia muito. Cerca de 9kms em linha recta mas bastante mais em percurso andado.

Ao longe via os abutres a pairarem no ar, voando em círculos e tirei logo algumas fotos embora a distância fosse grande.

Junto à Quercus, comi umas barritas e fui logar um marco geogésico para o waymarking.

Continuei até ao ponto, junto ao rio onde estaria o posto de observação de alados. Estacionei um bocado antes, junto do início do trilho pedestre e fiz o resto a pé. Chegado à vista do rio, fiquei deslumbrado. Lindo. As duas margens de uma basta vegetação mediterrânica, entrecortada por belos relvados verdes e o rio, imponente, lá ao fundo.












Comecei a procurar maneira de colocar uma multicache e depois de analisar bem a carta do local no ozi, descobri que havia uma casa mais perto do rio, indo por um dos estradões que saíam da bifurcação junto ao local onde decidi deixar o carro. Fui colocar a cache final, tirei fotos e registei as coordenadas.




















Nessa altura reparei que os abutres estavam a voar por cima de mim. Curiosidade? Escondi-me da vista deles e disparei a máquina repetidas vezes. Eram muitos e conseguia ouvir o vento nas penas deles. A excitação era grande e até me lembrei de me deitar no chão, fingindo-me morto mas com a máquina pronta a disparar. Talvez eles se aproximassem e tirasse boas fotos. Sorri da minha ideia mas não a levei a cabo. Afinal, eu estava sózinho e eles pareciam ser muitos. Mais de 20, pensei eu (alguém notou, mais tarde, nas fotos, que eram 37!).


Alguns minutos depois, afastaram-se em direcção à outra margem do rio.











Depois dirigi-me ao local onde me pareceu que poderia "marcar" o início da multicache. No caminho para lá, passei por um dos pontos de alimentação dos abutres de que sabia da sua existência através do site da Quercus. Apesar de não ser surpresa, impressiona sempre ver um animal morto, já sem orelha, olho e faltava-lhe uma pata.




Desagradou-me o facto de ver que os serviços que deixam ali as carcaças de animais mortos em matadouro para alimentar os abutres, também tinham deixado os sacos de sarapilheira com que as levaram para ali - decidi logo que no regresso iria levar os sacos para o trashout.

Segui caminho em direcção ao ponto que seria o inicial da multiccache e, entretanto, pareceu-me ouvir barulho vindo dos arbustos. Parei para tentar ouvir melhor. Lembrei-me que estava perto de um animal morto o que atrai outros... Assaltou-me a ideia ... lobos? Náaa.. Não ouvindo nada, continuei a andar até que, alguns metros mais adiante, ouvi claramente o barulho de dois ou três animais, de passada pesada mas rápida, com o som inconfudível de cascos, a afastarem-se pelo meio dos arbustos. Estou convencido que seriam javalis - também referidos no site da Quercus.








Parei e fiquei com a máquina a postos. Mas, ao mesmo tempo, também um pouco apreensivo porque se fossem javalis e houvesse crias entre eles, os adultos poderiam tornar-se agressivos. Nada. Não vi nenhum animal e os ruídos afastavam-se cada vez mais.







Continuei até ao ponto que tinha decidido ir ser o inicial da cache. Chegado lá, preparei o que necessitava (não vou dizer aqui...) e almocei enquanto admirava a paisagem. Muito agradável e calma. Ouvia claramente o som da água do rio lá no fundo.

De regresso ao carro, levei então os sacos do matadouro e fotografei a pata do borrego e mais alguns esqueletos já sem carne que ia encontrando.













Iniciei então a saída daquela zona com a sensação de ter criado uma cache que me deu muita satisfação.

No percurso de regresso, propositadamente não quis ir pelos mesmo estradões e, no ozi, marquei outro percurso até Rosmaninhal. Queria saborear a região, os montes, salteados por prados verdes, rebanhos, cursos de água, arvoredos mas não em demasia, cursos de água... a atravessarem o caminho... Oopsss!











Ia distraído a admirar a paisagem...



O que vale é que sou um gajo desenrascado. Uma volta pela área. Umas pedras, umas cascas de eucalipto cortado e deixado na beira, umas acelerações para dar balanço ao carro e ir acelerando cada vez mais para que os movimentos de balanço sejam cada vez maiores e ...siga! :-)

Alguns quilómetros mais à frente, cheguei à estrada asfaltada, que vem de Soalheiros para Rosmaninhal, encontrei uns contentores do lixo para lá deixar os sacos que transportaram a carne para os abutres e seleccionei no CoPilot o próximo destino; Segura, perto do Rio Erges.



















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